Saúde Negra, Cuidado, Atenção Básica e Direitos

Apesar do declarado, essa crença na igualdade de tratamento e de cuidado aos(as) usuários(as) é uma falácia sob muitos aspectos. As relações interpessoais nunca são neutras, pois somos constituídos numa produção de subjetividade atravessada por inúmeras relações de saber-poder e diferentes afetos, que serão acionados no encontro profissional-usuário(a). Desta forma, as relações raciais são ainda invisibilizadas por aqueles(as) que utilizam os jalecos brancos. Na negação das desigualdades nas relações de saber-poder entre pessoas brancas e negras, os(as) profissionais da saúde de nível universitário, em sua maioria pessoas brancas, acreditam não compactuar com o racismo, pois, conscientemente, afirmam não diferenciar os(as) usuários(as). O enunciado “trato todo mundo igual” é uma afirmativa recolhida inúmeras vezes nos nossos diários de campo, bem como nas experiências de trabalho destes(as) autores(as). Diante dessa realidade, é importante determinar se as desigualdades em saúde estão relacionadas à raça como fator independente ou apenas são consequências dos piores indicadores socioeconômicos apresentados pela população negra. A inclusão do item “identificação racial” em estudos científicos mostrar-se-ia fundamental para uma melhor compreensão das condições políticas, sociais, econômicas e suas consequências no processo saúde-doença da população negra. Fontes de pesquisa: Abrasco, Exame e UOL.

Literaturas Negras - Os Escreviventes Dos Tempos Ancestrais

As ideias de literatura negra e marginal/periférica aparecem no Brasil ao longo do século vinte e estão intimamente ligadas às formas de associativismo político-cultural de seus grupos de origem. Entre um número significativo de autores, temas, proposições estéticas e políticas, existem escritores e escritoras que ora atrelam-se àquelas injunções, defendendo-as entre o ser e o fazer literários, ora repelem-nas, apesar de negros(as) e/ou periféricos(as) advindos(as) de contexto sociorracial e econômico semelhante. No entanto, quase todo autor ou autora negro(a) e periférico(a) já se viu envolto(a) em tais discussões logo no início das carreiras editoriais, porque lugar comum à autoria não branca ou tornada canônica. O sistema literário brasileiro cristalizou o escritor negro ou negra como uma espécie de avis rara, sujeito ou sujeita fora de seu lugar autoral, leia-se marginal, e socioeconômico. Dadas as formas social-materiais de produção e de surgimento destes autores e autoras, por diversas vezes, entre o cânone, questionou-se como foi possível a criação literária ter emergido em cenários tão inóspitos e/ou deslocados da hegemonia. O insólito não é operado, aqui, como elemento do universo fantástico, mas enquanto via de mão dupla, ou até contraditória, do cotidiano. A negação da negação, ou o princípio de afirmação do eu e do(a) sujeito(a) social, para pessoas negras e periferizadas faz com que o ativismo político e a criação literária de autoria negro-periférica tornem-se possíveis. Periferia também é lugar e, nele, porque prescindível de um centro hegemônico, consagram-se nomes, histórias, caminhos e subjetividades igualmente únicos. Fontes de pesquisa: Memorial Maria Firmina dos Reis, Revista CULT, Revista Galileu, Nova Escola, O Globo, Brasil Escola, Primeiros Negros e Geledés,

Museus Negros: Por Outra Museologia E Narrativa Histórica Negras Em Museus

A retomada de posse da (H)istória é um procedimento epistemológico, estético e político que as produções artísticas brasileiras e do mundo têm realizado de forma consistente, dada a sua inscrição de marcos imaginativos ampliadores dos limites nacionais e da fronteira afroatlântica. Derrubar monumentos, nas ruas ou nos textos, é uma forma de inscrever, na (H)istória, o revide, marca indelével do tempo presente, como consagrado por Anajá Caetano em "Negra Efigênia, paixão do senhor branco", romance de sua autoria publicado em plena ditadura empresarial-militar (1966), praticamente, desconhecido. No ponto de partida, há a certeza de que não se poderia contar esta história por uma visão oficial insistente e minimizadora da herança negro-africana como matriz (in)formadora da uma identidade nacional. Da perspectiva negra, este não é um processo exclusivo ao Brasil, pois sua presença aqui, como nas Américas, é indissociável da experiência de desenraizamento de milhões de seres humanos graças à escravização ainda no continente. Fontes de pesquisa: Brasil de Fato, g1, Nossa Causa, Geledés, MASP, Revista DR, Negro Muro.

Reconhecimento Facial e Advocacia Negra - Representatividade e Debate Penal No Judiciário

O cenário de desigualdades étnico-raciais e de gênero no poder Judiciário continua refletindo o processo histórico e estrutural de exclusão da população negra dos espaços de poder. Com o avanço da tecnologia, o mundo explora cada vez mais o uso da inteligência artificial e sua forma de interação entre o planeta real e o virtual. O reconhecimento facial, que surgiu a partir dessas inovações, é uma categoria de segurança biométrica que tem se multiplicado pelo Brasil e gerado críticas de especialistas que definem o sistema como racismo algorítmico. Utilizado sem critério pela polícia, o reconhecimento facial, que funciona com um sistema que utiliza algoritmos e softwares para mapear padrões nos rostos das pessoas, tem sido usado para prender centenas de brasileiros inocentes no país inteiro, a grande maioria negros. Um levantamento feito pela Rede de Observatório da Segurança em 2019, apontou que 90% dos presos por meio do reconhecimento facial no país, eram negros. Mas, quando o assunto está relacionado à segurança do indivíduo, pessoas negras são incriminadas indevidamente pelo reconhecimento facial - Pautados e estruturados no racismo estruturados no racismo. Fontes de Pesquisa: Politize, Conjur, CNTE, Uol, Exame, CNN Brasil.

Educação Antirracista: Iniciativas E Estratégias Pela Visibilidade Negra E Contra O Trauma Racial

Se o racismo manifesta-se institucional e estruturalmente como um conjunto de relações de poder assimétricas, precisamos combatê-lo também dentro da escola. Uma forma de fazê-lo é confrontar a estereotipização histórica das subjetividades, das competências/habilidades, dos saberes e da intelectualidade de pessoas negras nos âmbitos acadêmico, científico, escolar, artístico etc. Em que pesem as conquistas sociais dos últimos 40 anos no campo da equidade racial, ainda é necessário que educadoras e educadores assumam para si a tarefa de visibilizar conquistas, feitos, história e agência negros curricularmente. A revisão de práticas e de relações cotidianas faz-se premente à eliminação de posturas preconceituosas e discriminatórias em nosso "discurso pedagógico". A partir daí, como escola, dialogaremos mais e melhor com a comunidade escolar, com as figuras parentais/responsáveis e com as instituições do entorno, visando desconstruir a ideologia da democracia racial e o culto à miscigenação que encobre os processos violentos constitutivos da formação social à brasileira. Pensar em uma educação antirracista envolve tratar da relação entre pessoas e coletividade, mas igualmente permitir que todas e todos tenham identidade e história acolhidas no espaço escolar. Fontes de pesquisa: Revista Galileu, Meio Mensagem, Revista Isto É, O Dia e UNFPA Brazil.

Advocacia Negra E De Mulher - Os Desafios E As Intempéries Do Judiciário Para Mulheres Negras

Enquanto políticas orientadas para a inclusão de pessoas e de grupos historicamente marginalizados, as ações afirmativas constituem estratégia fundamental para a transformação do ainda presente cenário de classificação/exclusão e de sub-representatividade. A promoção do acesso ao ensino superior via implementação da Lei 12.711/2012 (Lei de Cotas) provou-se, por exemplo, eficaz e efetiva à transformação das universidades em espaços um pouco mais diversos e inclusivos. Neste sentido, pensar na proporcionalidade negra também em carreiras jurídicas, da graduação à magistratura, será crucial ao avanço da consolidação democrática à brasileira. Fontes de pesquisa: UOL, Politize, g1, Tribunal Superior do Trabalho.

Transcestralidades Negras: Vida, Trajetória, História E Resistência

Situações de confronto e de violência já se encontram em discursos de negação/opressão das alteridades e, por influência, conduzem à materialidade, externando-se em silêncios/risadas, no afastamento, na perversidade, na negação das identidades, na discriminação e na violência. Como já não bastassem as patulhas e os purismos de gênero sobre corpos e corpas trans, travestis e pessoas trans* negras sofrerem-nos duplamente, porque sob o peso do racismo antinegro e da transfobia. O binômio vulnerabilidade e opressão potencializa-se a olhos vistos na sociedade brasileira e é reiteradamente revelado na liderança do país, pelo 14º ano consecutivo, no ranking mundial de violência homicida transfóbica. Em recente relatório, a organização estadunidense Global Rights expôs a violação aos direitos humanos das pessoas trans e negras, em especial mulheres e pessoas transfemininas, evidenciada na falta de produção estatística sobre o grupo e em sua pautada invisibilidade nas esfera social e comunicacional. Fontes de pesquisa: Terra, Edição Brasil, Blogueiras Negras e Conselho Nacional de Saúde.

Podcasts E Podcasters Negras E Negros: Por Outra História E Influência Negras

O aumento da popularidade do podcast na última década mudou efetivamente o cenário de todo o mercado, e o crescente interesse em conteúdo novo e cativante provou ser uma opção atraente entre consumidores e consumidoras de mídia, especialmente públicos diversos em raça, gênero, classe, sexualidade, capacidade e outros marcadores sociais da diferença. Os podcasts crescem em popularidade entre a audiência negra. Ouvintes negros e negras transmitem programas em áudio mais do que outras audiências, enquanto veem o recall de 73% de marcas em anúncios para estes produtos aumentar. A importância da criação e do crescimento de podcasts idealizados, apresentados por pessoas negras é enorme. Estes criadores e criadoras de conteúdo têm amplificado a voz da comunidade, abordando temas que vão muito além do racismo antinegro e de suas repercussões. Mesmo tendência em ascensão, entretanto, o podcast não reflete a tão propalada democratização de sua cadeia produtiva, já que apenas 30% das classes C e D possuem acesso irrestrito à internet, de acordo com a Pesquisa de Acesso às Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC). Fontes de pesquisa: Mundo Negro, UOL, Bocada Forte, Storvo e Spotify.

Trabalho Doméstico E Trabalhismo No Brasil: Uma Luta Negra

O trabalho doméstico no Brasil é exercido principalmente por mulheres negras acima de 40 anos sem registro em carteira e com remuneração média inferior a um salário mínimo. Apesar de as desigualdades baseadas no período colonial brasileiro ainda perseguirem a comunidade negra, a cada dia, a luta antirracista avança um pouco mais por meio do ativismo de diversos movimentos sociais negros. Considerando tais raízes danosas, o racismo antinegro continua sendo um dos grandes males da sociedade brasileira, na qual ocorre a marginalização socioeconômica das pessoas negras e a negação de direitos básicos, a exemplo dos trabalhistas. Estas mulheres e homens ocupam postos de trabalho precarizados e mal remunerados e são maioria na informalidade e no subemprego, como o caso de trabalhadoras domésticas e de cuidadoras de idosos. Fontes de pesquisa: UOL, Outras Palavras, Doméstica Legal e BBC – Brasil.

Sociabilidades Negras E Resistência Político Cultural

A sociabilidade é, de alguma maneira, o valor que impulsiona os seres humanos a buscar e cultivar relações com outras pessoas, combinando interesses mútuos e ideias para, assim, orientá-los em direção a um objetivo comum e além das circunstâncias pessoais em que se encontram cada uma(a). Exemplo disso é a celebração à ancestralidade afro-brasileira da Festa de Nossa Senhora da Boa Morte, em Cachoeira, município do Recôncavo Baiano (a 110km de Salvador). Em honra à glorificação de Nossa Senhora da Boa Morte, o festejo é considerado um dos mais tradicionais, quando o assunto é memória e cultura negras deste Brasil. A Festa, patrimônio da Bahia desde 2010, é organizada pela Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, uma associação de mulheres negras acima dos 40 anos criada por ancestrais africanas economicamente emergentes que, além do papel político exercido em meio à sociedade escravista brasileira, impôs-se igualmente como institucionalizadora do candomblé baiano enquanto fenômeno urbano. Esta expressão de sociabilidade da gente negra do país integra o rolos feitos daquelas e daqueles cuja humanidade era, apesar da violência e do assédio raciais, realizada em sua integralidade. Fontes de pesquisa: Alma de Poeta, Toda Matéria, Revista Afirmativa e Sul21.

Amor Para Um Futuro Negro

Um amor preto baseia-se no fortalecimento da ancestralidade. Despe-se das dominações patriarcais e reveste-se do que há de mais precioso nas joias de Oxum: o amor genuinamente ancestral, este de enxergar[-se] em outra pessoa negra que também se ama o próprio reflexo, tudo, porque não há assimetrias grosseiras de poder nesta construção. O amor simplesmente flui, transborda e é, sem aprisionamentos. Afeto entre os nossos, para além de um relacionamento romântico ou sexo-afetivo com alguém, é também conectar-se com o outro ou outra, ter e receber cuidado, respeito e reconhecer feridas, cicatrizes e limitações. É pedir licença para entrar, estar em comunidade e entender que somos plurais em nossas subjetividades, com direito a erros e, principalmente, recomeços.
Canal Preto 00:08:05
EP6 - Destaques Do Ano 2022

Destaques Do Ano 2022

O Canal Preto traz para este último vídeo do ano os destaques de 2022, com o objetivo de relembrar grandes e marcantes momentos.

Kwanzaa E O Resgate Das Raizes Africanas

Kwanzaa pertence a tradições muito antigas das celebrações pela temporada das colheitas em África praticadas entre os povos do sudoeste africano. A festa é baseada em manifestações tradicionais datadas da pré- colonização europeia de, por exemplo, Egito e Etiópia, em especial associadas às intenções em torno do bom cultivo. Ela propõe uma recriação do vínculo entre as comunidades do continente, da diáspora africana e suas raízes. A utilização da palavra Kwanzaa para denominar a celebração foi destacada da frase "Kwanza do ya matunda", em swahili (ou suaíli, em português, a língua mais falada em África ao sul do Saara e considerada uma das línguas oficiais da União Africana), traduzida como "primeiros frutos da terra", na sua ligação com os significados da (boa) colheita e a sabedoria oriunda da ciência da agricultura enquanto sustentadora do mundo – a celebração ocorre em agradecimento às colheitas. A celebração do Kwanzaa foi idealizada, em 1966, pelo Dr. Maulana Karenga (1941), um reconhecido estudioso e ativista afro-estudanidense também acadêmico e catedrático de Estudos Negros. Segundo o Dr. Karenga, o feriado teve origem no movimento nacionalista preto do país, cujos objetivos foram/são o de criar uma consciência sócio-histórica entre as comunidades negras nacionais. O Kwanzaa é celebrado por pessoas afro-estadunidenses e negras da diáspora, com a duração de sete dias – as comemorações têm início em 26 de dezembro e finalizam-se em 1º de janeiro –. Entre muita fé, comida, música e dança, o Kwanzaa surge com o propósito de resgatar a memória da população africana. Fontes de pesquisa: Guia Negro e Mundo Negro.

Racismo Algorítmo x Engajamento x Influência, Segurança E Economia

Você sabe o que é racismo algorítmico? Em grande parte, é a prática de fazer distinção de cor/raça, a partir da recomendação de um conteúdo ou do reconhecimento facial de usuários negros e não brancos, em relação a pessoas brancas em ambiente virtual. A internet tornou-se um dos espaços de maior presença da população brasileira nas últimas décadas. De acordo com uma pesquisa da TIC Domicílios (2019), aproximadamente 130 milhões de pessoas têm acesso à rede no Brasil. A discussão sobre o tema alcançou grande escala após usuários do Twitter, plataforma de microblog, denunciarem que os algoritmos do site destacavam pessoas brancas em fotos. A empresa reconheceu o caráter racista do corte feito pelo algoritmo e garantiu trabalhar para o aprimoramento da inteligência artificial da rede. Outro dos problemas gerados pela prática é o uso da tecnologia de reconhecimento facial em casos policiais e investigações, uma vez que a maioria dos listados como suspeitos é negra, podendo levar a erros de identificação. Os aplicativos também apresentam dificuldades no reconhecimento de rostos negros e demais não brancos. Fontes de pesquisa: Geledés, Seja Relevante, Folha de S.Paulo, El País Brasil, Meio e Mensagem, The Intercept Brasil.

Negritude E Educação Financeira - Autodefesa E Emancipação

A história da população negra brasileira é permeada por uma lógica de exclusão financeira sem perspectivas e, muitas vezes, na sombra da pobreza. Embora o domínio do conhecimento na área de economia esteja concentrado na elite branca, a população negra é a responsável por grande, senão a maior, parte do consumo interno do Brasil. Olhando-se o cenário atual, não há como negar: 134 anos depois da abolição (1888), o Brasil continua sendo uma nação profundamente injusta social e racialmente. Dados do IBGE, a partir de informações do Banco Mundial, apontam que o país está entre os dez mais desiguais do mundo, sendo o único latino-americano na lista. Se a desigualdade não é de hoje, e ainda piorou com a pandemia de covid-19, a solução, além da pressa em ser encontrada, passa por uma série de iniciativas. Entre elas, está a educação financeira, que oferecerá conhecimento de gestão do orçamento familiar e/ou individual para o alcance de sonhos ou o enfrentamento mais digno de momentos de turbulência. Fontes de pesquisa: Brasil Escola, CNN, UOL Educação.

"Eu Sou O Samba" - Restauração E Reparação Cultural

Para além do discurso falado, escrito e figurativo, a música negra expressou aspectos da subjetividade performática, na qual corpo, gestos e dramaturgia constituíram formas complexas de elaborar comunicação e conhecimento. Na diáspora negra, a música consistiu em linguagem performática e meio pelo qual se expressaram ideias. Já o corpo, a oralidade e a religião aglutina(ra)m o que se pode designar como filosofia e arte negras. Mesmo gênero resultante de estruturas musicais híbridas, foi com os símbolos da cultura negra que o samba tornou-se expressão musical em todo Brasil. O samba contém inúmeras ramificações: samba-choro, samba-canção, samba de terreiro, samba-exaltação, samba de enredo, samba de breque, sambalanço, samba de gafieira, bossa nova, samba-jazz, samba de partido alto, samba de morro, samba de quadra e samba-rock. Enquanto organização viva articulada em torno da musicalidade negra e sambística, as escolas de samba refazem, entre laços comunitários, solidariedade e partilha étnico-culturais, a resistência da cultura negro-africana e seus valores civilizatórios como cosmos de outro mundo possível. Fontes de pesquisa: Agência Brasil, Cultura Niterói, Terra, Enciclopédia Itaú Cultural, Brasil Festas e Folias, Marcelo Bonavides e Famosos que Partiram.

Memória Audiovisual Negra

Criada em 2016, a Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (Apan) tem como um de seus principais objetivos desenvolver ações afirmativas junto aos setores público e privado envolvidos com a produção audiovisual no país. De acordo com um estudo da Agência Nacional do Cinema (Ancine), dos 142 longas-metragens brasileiros lançados em 2016 comercialmente, 75,4% são de homens brancos e outros 19,7% são assinados por mulheres brancas. Os homens negros assinam apenas 2,1% das direções cinematográficas, enquanto que nem um só filme foi dirigido por uma mulher negra no período analisado. Apesar deste histórico e dos desafios impostos por tal cenário, o Canal Preto celebra 4 anos de sua existência, recordando avanços e a produção intelectual-teórica, audiovisual negra como invenção de novas realidades para a permanência e o bem-viver do povo preto brasileiro em território diaspórico.

Dos nossos heróis e heroínas negros e negras brasileiros

A resistência de Palmares remete-nos a inúmeras reflexões. Há uma intensa profundidade emocional, quando lidamos com este tema ancestral. A historiografia brasileira deve muito ao povo negro deste país. Por negar sua humanidade e, ao longo da história, feitos atribuíveis à sua excelência, colocou homens e mulheres negros sob o ostracismo da civilização ocidental moderna. Lamentavelmente, todos os heróis e heroínas negros compõem um quadro invisibilizados, quando não de segunda categoria, em livros e paradidáticos, ampla literatura e nos meios de comunicação. O espaço necessário para a fruição de outro entendimento do período escravocrata brasileiro que não seja o da história oficial ainda resiste em ser oferecido. Não há visibilidade às realizações de nossa negritude histórica, em particular as de Palmares.
Canal Preto 00:07:12
EP19 - Festas Negras

Festas Negras

A princípio, os famosos bailes black e outras festividades negras eram vistos pela juventude como espaços de lazer. A política estava muito mais na atitude (gírias, roupas e cabelo) do que, propriamente, no discurso. O fato é que bailes e festas sempre fizeram parte da vida da população negra. A musicalidade e o ritmo são singulares atributos à maioria das culturas tradicionais africanas, e esta herança é expressa de diversas formas por afro-brasileiras e brasileiras. Desde o pós-abolição (1888), as diversas entidades que se formaram para sua organização tiveram nestes mesmos bailes e festas – o carnaval é, certamente, sua manifestação mais popular – uma expressão importante de lazer e sociabilidade. Impedidos(as) de entrar em festas de brancos, afrodescendentes de todo país e da diáspora construíram seu próprio campo de entretenimento. A Frente Negra Brasileira (1931) contava com, por exemplo, o grupo Rosas Negras, que organizava grandes festas na década de 1930. Estas celebrações tinham não só um caráter recreativo, como também cultural e pedagógico, pois havia palestras, apresentação de grupos de teatro e outras atividades culturais.

Dreads, Rastafári e Cultura de Resistência

Movimento rasta ou rastafári é o nome de expressão religiosa nascida na Jamaica na década de 30 do século 20. Seus seguidores e seguidoras são caracterizados(as) pela adoração a Hailé Selassié, primeiro imperador negro a governar um país africano. Seu período imperial deu-se na Etiópia entre 1930 e 1974, e Selassié é considerado a manifestação ressurrecta de Yahshua (Jesus) e, portanto, a reencarnação de Jah (Jeovah ou Deus). De acordo com a filosofia rasta, o nascido Tafari Makonnen vai conduzir os eleitos à criação de um mundo perfeito, Zion, paraíso dos rastas e, para lá chegar, seus e suas adeptas e adeptos deverão rejeitar a sociedade capitalista moderna, chamada por eles de Babilônia, vista como corrupta e impura.

Juventudes Negras Vivas

A sociedade brasileira é, em sua grande maioria, racista. Embora representem entre 54 e 56% da população, pessoas negras (pretas e pardas) não ocupam proporcionalmente as mesmas vagas de trabalho e não têm as mesmas oportunidades. Negros e negras são vítimas de um preconceito de tipo racial(ista) que se perpetua por séculos. Mulheres e homens, crianças e adolescentes negros e negras são marginalizados.

Teatro Experimental Do Negro (TEN) - Legados E Insurreições De Abdias Nascimento

Abdias Nascimento (1914-2011) trouxe para o teatro a dimensão política da resistência negra. Idealizado pelo intelectual, ressaltando sua pioneira atuação na contemporaneidade brasileira, o Teatro Experimental do Negro (TEN) atuou como uma rede de articulações e ativismos ao antirracismo negro entre os anos de 1940 e 1960. O poeta, ensaísta e teatrólogo teve seu contato definitivo com as artes cênicas durante as viagens que fez ao lado do grupo de poetas da Santa Hermandad Orquídea, fundado no Rio de Janeiro, em 1939, e integrado pelos argentinos Godofredo Tito Iommi, Efraín Tomás Bó e Juan Raúl Young, além dos brasileiros Gerardo Mello Mourão, Napoleão Lopes Filho e o próprio Abdias. Em viagem realizada pela irmandade em 1941, Abdias assistiu ao espetáculo "O imperador Jones", do dramaturgo Eugene O'Neill (1920), na capital do Peru (Lima). Na peça interpretada pelo grupo argentino Teatro del Pueblo, um ator branco envidava o protagonista com o rosto pintado de preto, uma prática racista chamada "blackface", de representação exagerada de personagens negras popularizada nos Estados Unidos do século XIX (19). O Ipeafro, de estudos e pesquisas afro-brasileiros, foi criado em 1981 por Abdias Nascimento e Elisa Larkin Nascimento, sua companheira e hoje viúva, após o exílio de 13 anos de Nascimento por conta da cerrada repressão da ditadura civil-militar no Brasil. O Instituto surgiu com a missão de guardar o acervo artístico e documental de Abdias e das organizações que ele fundou, a saber, o Teatro Experimental do Negro (TEN, 1944-5) e o Museu de Arte Negra (1950). Em momento improvável para a criação de iniciativas transformadoras, no qual o país enviava um efetivo de 25 mil homens à Segunda Grande Guerra (1939-1945) e amargaria a baixa de 454 soldados, nascia, no Rio de Janeiro, o Teatro Experimental do Negro (TEN), em 13 de outubro de 1944, com a proposta de resgatar a cultura negra, afro-brasileira e trabalhar a valorização social do negro território nacional por meio da educação, cultura e arte. Fontes de pesquisa: Alma Preta, Teatrojornal, Cultne TV, Iná Livros, Multi Rio e Por dentro da África.

Infância Preta - Por Uma Negritude Positiva

A educação antirracista descontrói, já na infância, o racismo antinegro. Os reforços positivos em torno da própria imagem e da de seu grupo nos primeiros anos de vida são fundamentais para a construção da autoestima de uma pessoa; discutir o racismo e a opressão racial nesta idade tem impacto profundo no processo não só de construção da identidade/subjetividades de crianças negras, como também de suas congêneres não negras. A educação é um dos campos da atuação e presença sociais em que o racismo é mais reproduzido e perpetuado. As primeiras pessoas a sentirem os efeitos da discriminação racial nestes espaços são as crianças negras, que podem ser apresentadas a um conhecimento (branco-)eurocêntrico descredibilizador da história e ancestralidade pretas no mundo, prejudicando, já em tenra idade, seu desenvolvimento pleno. Quando a escola e outras instituições concorrentes estruturam políticas comprometidas com o antirracismo, a sociedade, como um todo, ocupa papel central na transformação desta realidade. Fontes de pesquisa: Portal Lunetas, Mundo Negro, Revista RAÇA Brasil, Preta Pretinha e Veja Saúde.

Cultura Negra, "BLERDS" (Black nerds) e Afroficção

O afrofuturismo usa a literatura e as artes gráficas, a música e a dança, o cinema e a televisão para imaginar pessoas negras em um futuro que lhes foi negado. Estes atos de reparação são mais do que entretenimento, embora também precisem, e devam, ser divertidos. Mesmo em futuros imaginários, entretanto, defendem autores e autoras de ficção especulativa afrofuturista, devemos fazer um balanço do passado e assentar o presente. O grande passo para a população negra nerd rumo à ocupação, apropriação e habitação de seu próprio corpo é a autodeclaração. Esta postura contra as "tendências de combinação", chacotas e a "sombra do cool", que afirma a legitimação de nossos corpos como suportes desta identidade (mal catalogada pelo Google Imagens, por exemplo), é o verdadeiro passo contra o isolamento (síndrome de smurfette; tokenismo), contra o estereótipo de "negritude autêntica" e, ao mesmo tempo, contra a imagem única de que só podem ser nerds os clássicos clichês dos anos 1980. Sem dúvidas, reivindicação é uma das formas de afirmação das subjetividades. Afinal, a função da pessoa negra em uma sociedade racista é voltar sua atenção ao afeto para com os seus, as suas e a própria individualidade. Não é mera questão de visibilidade entre um e outro mercados – o capitalismo não é solução à desigualdade social –, mas, sim, de quebrar o silêncio, autodeterminar(-se) e compreender o potencial do poder de agência. Resumindo: a consciência negra e nerd é o ápice do empoderamento do sujeito ou sujeita que habita o corpo negro fora dos padrões de beleza, fora dos padrões de consumo e de uso da tecnologia (comprar a mesma coisa não significa consumir, compreender e entreter-se da mesma forma). Fontes de pesquisa: Razões para Acreditar, Aminoapps, Gibizilla, Teia Neuronial.

Imprensa Negra Brasileira - De "O Homem de Cor" (1833) Ao Midiativismo Digital

O fortalecimento das mídias negras no Brasil tem levado em consideração que estes mesmos canais são espaços fundamentais para potencializar as narrativas e denúncias contra o racismo antinegro e seu projeto de genocídio à população negra. Utilizando-se das ferramentas disponíveis e da tecnologia, como jornais-mural e eletrônico, revistas, pôsteres, mídias comunitárias e redes sociais, coletivos de mídia negra incidem suas narrativas em todos os cenários, ampliando as tensões. É a partir de estratégias aí elaboradas que estes grupos têm reafirmado o lugar político de fazer comunicação, ressignificando seu sentido social e pedagógico no Brasil e propondo-a centrada nos agenciamentos políticos. Diante de contexto adverso, no qual a democratização e a regulamentação midiáticas ainda soam distantes, iniciativas criadas por comunicadores negros e negras para socializar as suas demandas, percepções, projetos e estratégias coletivas de luta têm mostrado-se um caminho possível. Por meio delas, é possível pensar em reapropriação das narrativas sobre negritude, na garantia do livre pensar/expressar e a geração de impactos, sobretudo políticos, que afetam diretamente as condições de vida e existência da população negra brasileira. Fontes de pesquisa: Brasil Escola, Ensinar História, Biblioteca Nacional Digital - Brasil, Observatório da Impressa, Nexjor e O Menelick 2º Ato.

Bissexualidades Negras

A bissexualidade consiste em um espectro da sexualidade no qual o desejo sexo-afetivo e/ou romântico é orientado a pessoas de dois ou mais gêneros, cis e/ou transgêneras. Tal expressão entra em choque com as normas preestabelecidas em torno da (cis)heteronormatividade monossexual e, por isso, é reprimida e invisibilizada pelos setores mais conservadores, pois seu interesse é a manutenção da moral hegemônica. Entre heterossexuais e mesmo parte da comunidade LGBTIAPN+, a monodissidência bissexual é vista como opção daqueles(as) que buscam a promiscuidade e preferem manter-se na indecisão. Ao passo que as duas especificidades se relacionam – aqui, negritude e bissexualidade –, há uma agudização distinta das barreiras já enfretadas pela pessoa negra, mulher ou homem, em quaisquer relações interpressoais/com outros grupos e, neste sentido, certa solidão afetiva historicamente imputada intensifica-se. A necessidade binária daqueles e daquelas que rodeiam, especificamente, a mulher negra bissexual – cuja agência, por força do racimachismo patriarcal, já é perturbadoramente suprimida –, é fruto da falta de informação proposital dos meios de dominação ideológicos e/ou da incompreensão de aliadas e aliados na luta pela insubordinação às opressões correlatas. Fontes de pesquisa: Esquerda Diário, Alma Preta e Brasil de Fato.

Mulheres e Homens Negros Viajantes e Afroturismo

Além de ser o ano em que uma pandemia varreu o mundo, 2020 foi também o grande ano das discussões e debates antirracistas. Desde então, falar de pautas raciais, ações afirmativas fez-se – e faz-se – cada vez mais necessário, e o turismo não poderia ficar de fora, uma vez que movimenta uma cadeia muito extensa de fornecedores – desde o artesão na beira da praia até o(a) piloto das companhias aéreas. Para viajantes negros e negras, o turismo afrocentrado é uma oportunidade de conhecer a história negro-africana e afro-brasileira, por onde nós, pessoas negras, já passamos e de sentirmo-nos mais acolhidos(as), já que proporciona conexão ainda mais estreita com os territórios visitados e as pessoas, também pretas e pardas, que promovem a experiência, outros(as) participantes e residentes locais dos destinos escolhidos. Levando-se em consideração que nós, pessoas negras, perfazemos 56% da população brasileira, o turismo etnorreferenciado nacional destaca-se, especialmente, por resgatar as nossas histórias. Ele mostra para turistas estrangeiros(as) e brasileiros(as) o quanto, além da população local, africanos, africanas e seus, suas descendentes têm participação central na construção deste Brasil, em todas as suas paragens. Fontes de pesquisa: Fundação Cultural Palmares, Catraca Livre, Estadão, DW e Egali.

Anticapacitismo Negro e a Luta Negra - PcD

O capacitismo é um problema em nossa sociedade. Pessoas com deficiência (PcD) são, muitas vezes, invisibilizadas na imprensa, na publicidade, no mercado de trabalho e na arte. Mesmo após diversas batalhas por mais inclusão, ainda existem reparações necessárias e lutas a serem travadas por e para esta população. À frente da luta por acessibilidade e visibilidade, mulheres com deficiência ocupam espaços na internet e nas ruas. De diferentes cores, etnias, sexualidades e histórias, elas celebram a pluralidade e reafirmam que ninguém pode ou deve ser reduzido(a) à sua deficiência. Cada uma a seu modo, todas, todos e todes seguem em marcha contra o capacitismo — atitudes discriminatórias, conscientes ou não, que subjugam a autonomia de alguém e revelam o preconceito contra pessoas com deficiência. Em todo o mundo, mais de um bilhão de pessoas vive com algum tipo de deficiência, segundo relatório das Nações Unidas (ONU) de 2018. Por aqui, no Brasil, cerca de 8,4% dos brasileiros (17,3 milhões de pessoas) acima de dois anos de idade tem alguma deficiência, de acordo com dados divulgados em 2021 pelo IBGE. Mesmo representando uma parcela significativa da população, pessoas com deficiência convivem com uma série de vácuos no escopo de políticas públicas, violência esta (institucional) retroalimentada pela ausência de representatividade midiática, estética que reverbera mesmo em espaços ditos plurais, como movimentos sociais. Indivíduos com deficiência são tratados como notas de rodapé, sempre associados à nuvem semântica da acessibilidade — que muito mais faz segmentar do que incluir. Associadas a um viés assistencialista nas pautas, PcDs aparecem nestes discursos como sujeitos e sujeitas de uma cidadania passiva, sempre à espera de uma pessoa — de corporalidade normatizada como funcional, de preferência — que as inclua nos espaços. É sob a falsa premissa de inclusão que, mesmo no espectro progressista, pessoas com deficiência são tidas como existências excepcionais — um fenômeno que a luta antirracista reconhece e debate com propriedade, como mostra-nos o conceito da síndrome do negro único.

Mulheres Negras no RAP

Enquanto as afro-estadunidenses ocupam, gradativamente, espaços de poder, decisão e ampla circulação no rap, as rappers brasileiras ainda enfrentam desafios maiores na indústria. Machismo do público e da produção, falta de investimentos do setor e descredibilização do trabalho de mulheres são alguns dos percalços encontrados por elas. O racismo evidencia-se maléfico para a população negra e, quando combinado com gênero, resulta que mulheres negras tenham suas vidas e carreira na cena hip hop condicionadas por estes marcadores sociais da diferença (raça e gênero), construindo espaço geográfico e territórios de atuação e recepção distintas de outros grupos sociais. Fontes de pesquisa: UOL, Revista Esquinas, Carta Capital, Zonas Urbanas, Revista Gama, Veja Rio, Preta Joia, Fofoqueando, Igor Miranda, Yahoo e G1.

Mulherismo Afreekana e Feminismos Negros - Convergências e Possibilidades

Um movimento de resgate, de recolocação do povo preto no mundo diferencia-se dos movimentos de mulheres do Ocidente, lutadoras da igualdade de gênero; do feminismo negro, ou dos feminismos negros, que inclui(em) a questão de raça e classe – como marca a filósofa negra Angela Davis (1944-) em seu livro "Mulheres, raça e classe" (1981; BOITEMPO, 2016) –, e do mulherismo da estadunidense Alice Walker (1944-), autora de "A cor púrpura" (The Color Purple, 1982), que, em âmbito literário, não prioriza a discussão de gênero, mas antes de raça e classe. Mulherismo afreekana (lê-se "africana") é uma proposta política cunhada já no final da década de 1980 pela professora afro-estudanidense Clenora Hudson-Weems (1945-) – e depois sistemizada em "Africana Womanism: reclaiming ourselves" ("Mulherismo africana: recuperando a nós mesmas", 1993) –, que faz uma investigação epistemológica de como as mulheres africanas organizavam-se antes do período colonial e compreendiam suas experiências culturais e históricas antes dos atravessamentos, nomenclaturas e perspectivas construídas no pós-colonização. Nessa investigação, Hudson-Weems depara-se com uma experiência antes não investigada: a de auto-organização feminina sob a perspectiva africana. A autora relata ter apenas compreendido, refletido e organizado em letras os sistemas de organização e gestão comunitária, coletiva das mulheres do continente, que figuravam à frente de seu povo, a partir da matrilinearidade e, por isso, consideradas os centros vitais e organizacionais daquela coletividade. As mulheres organizavam toda a estrutura de seu povo. A partir desta noção, Hudson-Weems estabelece o conceito "mulherismo afreekana", que trata de uma proposta emancipadora sobre o lugar participativo das mulheres negro-africanas na história, identificando-as enquanto agentes de poder e decisão, sabedoria e luta. O mulherismo afreekana reflete, e reflete-se, a partir da própria agência, ou seja, das agências de mulheres pretas africanas e em diáspora em sua localização de mundo, como seu próprio epicentro. Neste sentido, nada que não tenha sido embrionariamente pensado pelas mulheres negras em e a partir de África pode dar conta de sua totalidade, espiritualidade e ancestralidade. Diferentemente das lutas feministas de gênero, a perspectiva mulherista afreekana de restabelecimento da emancipação e autonomia do povo preto faz compreender a centralidade da raça na violência dirigida pela colonialidade sobre os corpos das mulheres e homens negros como realidade da vida no mundo ocidentalizado. Esta particularidade do mulherismo afreekana destaca-se ainda por entender que homens negros também fazem parte dos processos de violência construídos pelo racismo, porque uma vez tornados engrenagem subalternizada para a continuidade do poderio branco. Os homens pretos fazem-se, então, parte do debate, igualmente responsáveis que são pela reconstrução de sua identidade subtraída pelo processo colonial. O mulherismo afreekana é, portanto, uma alternativa para entender, refletir e agir rumo à saída da Maafa [neologismo político usado para descrever a história e os efeitos contínuos das atrocidades infligidas ao povo africano] ocidental em que vivemos. . Fontes de pesquisa: Mundo Negro, G1, Primeiros Negros, A gazeta e Oxy.

Grifes Negras: Revolução e Luta Política

O Brasil está no ranking dos maiores produtores e consumidores de moda do mundo. O mercado, que movimenta cerca de R$136 bilhões por ano no país, está entre as áreas mais promissoras da atual economia. Inserida neste contexto, a moda afro-brasileira brinda-nos com diversos artigos expressivos da afirmação e a valorização das culturas e identidades africanas presentes no Brasil. A ausência de negros e negras nas passarelas não é novidade. A falta de representatividade desenrola-se nas coxias desde que a indústria viu-se obrigada a rever, (também) aos olhos da lei, a imagem demasiado branca que vendia a um país de ascendência indígena e negro-africana. Já nos backstages (bastidores), a "beleza" parece ter entendido, finalmente, a diversidade dos vários tons e subtons de pele existentes, uma vez que mulheres negras sempre enfrentaram a falta de atenção do mercado da beleza. A passos largos, algumas marcas, como MAC Cosmetics, O Boticário, Dior e Fenty Beauty – marca da cantora Rihanna, que lançou 40 tonalidades diferentes de base –, foram mais rápidas em termos de inclusão. Uma base pensada para a pele negra (clara e retinta), um turbante que revela sua identidade ou um vestido que comunica um pouco de sua história... Na moda ou na beleza, mulheres transformam roupas, acessórios e itens de maquiagem em instrumentos para falar de suas origens. Fonte de pesquisa: Mundo Negro.

Lesbianidades Negras - Amar e Reexistir Lesbinegros

As identidades como desenvolvimento social possuem interpretações e provocam sentidos, ou seja, são construções históricas. Estas construções favorecem a continuação de privilégios e da ordem social hegemônica que estimula a misoginia e a repulsa às "corpas" das sapatonas e de suas sexualidades. Assim, as identidades e subjetividades negras lésbicas tornam-se vítimas de discriminações cumulativas geradoras da invisibilidade e do extermínio por fim físico, o chamado "lesbocídio", forma particular de feminicídio (violência praticada contra mulheres em razão de seu gênero) às mulheres lésbicas/sapatonas. A prática, aliás, secular, tem sido apoiada pelo Estado necropolítico e amplamente tolerada pela sociedade brasileira raci-heteropatriarcal lesbofóbica. Este exercício é construído em conformidade a um processo histórico de apagamentos, silenciamentos, invisibilidades e da hecatombe das vidas de mulheres negras lésbicas/sapatonas no Brasil. No campo do marco conceitual ou referencial teórico, a discussão perpassa pela "interseccionalidade", eixo teórico-metodológico e analítico originalmente estadunidense, porém abrasileirado, a partir da obra da intelectual negra baiana Carla Akotirene (2019), que tem sido profundamente elogiada pela crítica cirúrgica à branquidade acadêmica e epistemicida dos saberes negro-africanos, afrodescendentes, indígenas e dissidentes sexuais. A opressão interposta pelo racismo condiciona, portanto, a marginalização social de mulheres negras no geral e, em particular, de mulheres negras lésbicas/sapatonas, em que estereótipos racistas e lesbofóbicos como, por exemplo, o da "negra raivosa", responsável por provocar a violência contra seus próprios corpos e corpas, redundam no feminicídio lesbocida negro. A fragilidade e a proteção social dedicada às contrapartes brancas são negadas pela sociedade e o Estado a diferentes categorias de mulheres e expressões sexuais. Fontes de pesquisa: Gama Revista, Revista Claudia, Geledés e Fundação Palmares.
Canal Preto 00:08:37
EP5 - Paternidades Negras

Paternidades Negras

A paternagem preta não pode ser analisada do mesmo lugar que as paternidades brancas. O primeiro passo é desconstruir a paternidade, e a parentalidade, de forma geral, como movimentos singulares. As paternidades ocupam lugares distintos nesta arena. Analisar as paternidades sem recortes de raça, classe e gênero é esforço vazio e desnecessário. A interseccionalidade é conceito importante e ponto de partida à compreensão dos distintos exercícios das paternidades. Se este homem negro sobrevive para paternar, quando o pode e consegue, ele depara-se com o desafio de ser pai ou cuidador e ter de ensinar seus filhos e filhas a conviver com o racismo antinegro, ou seja, precisa ainda criar um repertório de paternagem mais vasto que o de uma pessoa branca – sim, no Brasil e em outras paragens da diáspora negro-africana, a superestrutura racista aplica sobrepesos aos ser e existir pretos. Criou-se certa premissa de que pais negros são mais ausentes na vida dos filhos e filhas. Condições socioeconômicas adversas destes genitores/cuidadores que, eventualmente, não convivam com seus rebentos e rebentas e, portanto, não possam vê-los(as) com frequência ou prover bens de consumo e educação forjaram a imagem de não valorização do paternar pelo homem negro. "Não conheço dados que apontem essa situação de ausência. Tanto homens negros quanto brancos apresentam situação de ausência em relação aos seus filhos. Acredito que essa situação aconteça também pela falta de planejamento, e isso acaba gerando um problema muito sério para a mulher, que assume a criação sozinha. Agora, famílias desestruturadas podem ser mais recorrentes em espaços que apresentam rendas abaixo dos índices de pobreza, e isso afeta diretamente a comunidade negra por não ter ainda atingido um grau de escolaridade que a/nos permita melhores rendimentos. E a situação da falta de perspectiva, com desemprego e abuso no uso de álcool e drogas, é fator que pode explicar essa situação", opina Leonardo Bento, pai de Aísha, de cinco anos, Naíma, de três, em reportagem de Mayara Penina para o Portal Catraca Livre.

Julho das Pretas - Tradição, Persistência e Ancestralidade

No dia 25 de julho, celebramos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana, Caribenha e da Diáspora - alusão I Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Caribenhas ocorrido em Santo Domingo, República Dominicana, nesta mesma data de 1992 -, além do Dia Nacional de Tereza de Benguela, que relembra a luta e resistência quilombolas de Quariterê (MT) sob a liderança de Rainha Tereza (1730-1770) em Lei Federal promulgada pela ex-presidenta Dilma Rousseff (Lei 12.987/2014). Em razão disso, para muitas instituições e por muitas pessoas, o período abrangido pela série de celebrações em torno da efeméride é conhecido como o Julho das Pretas. Marcar o mês com atividades ligadas aos debates sobre as opressões racial, de gênero e classe, a ascensão e inserção de mulheres negras cis e trans, por exemplo, na política foi parte da estratégia adotada para trazer reflexões necessárias acerca do do lugar ocupado por esta parcela da população ao conjunto da sociedade brasileira, ao passo que, simultaneamente, articulações multissetoriais pelo enfrentamento desta realidade são reelaboradas e discutidas. Nosso posicionamento também é resultado da certeza de que, quando mulheres negras forem efetiva e proporcionalmente representadas, a consolidação democrática à brasileira sempre tentada estará efetivada, porque sob os princípios da justiça e reparação raciais. Nossa convidada Fátima Lima, antropóloga, Professora Associada do Centro Multidisciplinar UFRJ – Macaé, nordestina, colaboradora da Casa das Pretas e coordenadora do Grupo de Estudo e Pesquisa ORI - Grupo de Estudo e Pesquisa em Raça, Gênero e Sexualidade/CNPq, afirma: "Tem muita produção de mulheres negras para a gente conhecer e aprender!". Jaqueline Gomes de Jesus, professora de Psicologia do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e do Departamento de Direitos Humanos, Saúde e Diversidade Cultural da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (DIHS/ENSP/Fiocruz), fala sobre sistema acadêmico e a importância da educação diversa. Nossa convidada Raquel Barreto, historiadora e pesquisadora especializada no trabalho das autoras Angela Y. Davis (1944) e Lélia Gonzalez (1935-1994), fala sobre o movimento negro e a produção de conhecimento de intelectuais negras, citando Lélia Gonzalez (1935-1994) e Beatriz Nascimento (1942-1995) como principais referências históricas. Melina de Lima, historiadora e neta da grande intelectual e ativista Lélia Gonzalez (1935-1994), coautora do Projeto Lélia Gonzalez Vive e Diretora de Educação e Cultura do Instituto Memorial Lélia Gonzalez (início em breve), fala sobre filosofia africana, produção intelectual-teórica de mulheres negras, suas contribuições históricas aos movimentos negro e feminista e a falta de democracia racial no país. Nossa convidada Idelzuíta Ribeiro da Paixão, matriarca e neta dos fundadores do Quilombo Mimbó, na zona rural de Amarante (PI), conta-nos sobre a história de sua família e construção do Quilombo Mimbó. Fontes de pesquisa: Geledés, Brasil Escola e G1. AGRADECIMENTO: O Canal Preto gostaria de agradecer a participação de nossas convidadas.

Muralismo, HQs e Arte Gráfica Negros

A representação de negros e negras nas artes brasileiras em geral (literatura, pintura, teatro, cinema, música popular) deixa muito a desejar. Um dos questionamentos mais frequentes feitos pelos afro-brasileiros e brasileiras é o de que não são representados(as) como personagens individualizados(as) e profundos(as), mas tão só arquétipos e estereótipos. Observa-se que a imagem do negro ou negra é e foi apresentada, por diversas vezes, de maneira superficial e estereotipada, quando não ainda pautada na depreciação, minimização ou negação existencial. É fato que o mercado de arte tem direcionado-se nos últimos anos, finalmente, à produção de artistas negros, negras e não brancos(as), o que pode ser visto como uma tendência de reversão de uma longa história de negligência ou simplesmente meio de satisfazer o voraz apetite do capitalismo comercial do setor por "novos produtos". Apesar ou não deste debate, há muito o que ser celebrado quanto à valorização e ao reconhecimento de múltiplas representatividades e suas narrativas. Desejo coletivo é que as meninas e meninos negros, e também não negros, de nosso país abram um livro, vejam a arte de um(a) igual ou conheçam a história de um artista negro ou negra. Outro desejo ainda é que aquela criança preta, e também não preta, do bairro possa se inspirar ao ver imagens positivas/positivadas da mulher e do homem negros grafitada nos muros ou no centro da cidade, incluindo-se as representações visual-conceituais de outras etnias e raças. Deste equilíbrio de valores, poder e bens em nossa sociedade, os padrões de beleza midiáticos e/ou de todas as comunicações de massa serão, porque diversos, multiculturais.

Funk: Festas, Moda e Economia Criativa

A repressão policial faz parte da realidade dos bailes de subúrbio, sobretudo negros, desde a década de 1970. Os bailes passaram do soul para o 150bpm, mas a cultura negra segue criminalizada no Rio de Janeiro, em São Paulo e outros estados do Brasil. O funk carioca aparece na década de 1980. Sua origem é a mistura das batidas eletrônicas do hip hop, da poesia do rap e da habilidade de DJs em mesclar batidas repetitivas com a melodia. A temática das letras está ligada diretamente ao cotidiano da favela ou do subúrbio. Atualmente, o funk se divide em diversos subgêneros, como funk melody (de temática romântica e sem apelo considerado explicitamente sexual), funk ostentação (linha que exalta a riqueza e certa vida luxuosa), funk proibidão (cujo retrato é, majoritariamente, o da realidade de comunidades e favelas sob o tráfico de drogas) e new funk (que une funk ao dance-pop). O funk ainda é rejeitado, quando não criminalizado, em razão do racismo antinegro e do preconceito de classe. A rejeição vai além da barreira do gênero musical, pois trata-se de ritmo que incomoda, principalmente, a parcela da sociedade (branca) historicamente privilegiada. O funk é uma manifestação cultural das massas, do povão e, sobretudo, da juventude negra, pobre e favelada. É importante ressaltar que outras produções culturais criadas no bojo dos movimentos negros brasileiros e/ou da diáspora negro-africana também já foram criminalizadas no passado, como a capoeira, o samba e o rap. Diversas outras manifestações culturais são marginalizadas, incluindo-se as religiões de matriz africana e afro-brasileira, como a umbanda e o candomblé, sistematicamente perseguidas até os dias atuais. MC Zuleide, compositora, comunicadora, poetisa e ambulante do Leme, conta-nos sobre sua vivência como MC e seus sonhos. Nosso convidado DJ Def Brks, membro e fundador do Grupo Original Flow Kidz, idealista e produtor do Coletivo de DJs VinteRoom, DJ, produtor musical, cultural e criador do "Breaking", formato inovador de Breakbeats BR em fusão com o funk carioca, fala sobre o funk ser popular e acessível. Luciane Soares da Silva, professora associada da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), chefe do Laboratório de Estudos da Sociedade Civil e do Estado (LESCE) e coordenadora do Núcleo de Estudos Cidade, Cultura e Conflito (NUC), fala sobre a criminalização do funk, ação policial e a economia do baile. Nossa convidada Tássia Seabra, produtora, mulher preta, aceleradora cultural, comunicadora social, roteirista e diretora de diversos videoclipes, fundadora e coordenadora do Coletivo Ibura Mais Cultura e CEO da Agência Seabra, que profissionaliza artistas periféricos independentes para disputar o mercado fonográfico, afirma: "A gente entende que o funk é uma via, uma opção de sobrevivência para jovens negros periféricos longe da violência". Renata Prado, dançarina, professora, coreógrafa de funk, pesquisadora, produtora, coordenadora da Frente Nacional de Mulheres do Funk e da Academia do Funk e estudante de Pedagogia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), fala sobre o resgaste da cultura do funk, da juventude negra e economia criativa. Fontes de pesquisa: UOL, El País, Hysteria, Estadão e Brasil de Fato. AGRADECIMENTO: O Canal Preto gostaria de agradecer a participação de nossas convidadas e convidado.

Cabelo é poder! Ancestralidade, Memória e Revolução Estética

Considerado por muitos e muitas apenas um instrumento estético, o cabelo vai muito além disso. A simples opção por um corte ou penteado diz bastante sobre a personalidade de uma pessoa. Para os negros e negras que, especialmente desde a década de 1950, desfilam com seus Black Power imponentes, o cabelo transcende o campo da beleza e significa um encontro com a identidade, além de uma ferramenta de afirmação. A trajetória do black power tem início ainda nos anos 1920, quando Marcus Garvey (1887-1940), tido como precursor do ativismo negro pan-africanista na Jamaica, insistia na necessidade de romper com padrões de beleza eurocêntricos para, a partir disso, promover o encontro de negros e negras em diáspora com suas raízes africanas. Décadas depois, nos Estados Unidos, o afro também começou a ganhar espaço e se tornou outra das bandeiras protagonistas da luta preta por direitos civis nos anos 1960. No entanto, foram as mulheres negras as mais propulsoras desta história. Condicionadas desde o tempo da escravização a alisarem o cabelo, elas "bateram o pé" e decidiram andar pelas ruas ao natural, causando o espanto, o horror e a reação da comunidade branca. Há quase 70 anos, a luta da (auto)valorização estética como identidade na diáspora, em que o cabelo e sua naturalidade sobressaem-se aos padrões de beleza ocidentais, consolida-se como instrumento de resistência e cultura. Neste contexto, seja na política ou nas artes, o black power foi e é símbolo que transcende as fronteiras da beleza e significa para o negro e negra o resultado da luta de seus, suas ancestrais pela determinação em manter viva a identidade de quem lutou por direitos. Nesta busca, cabelo é identidade e também símbolo de respeito e autoafirmação. Nossa convidada Amanda Coelho (Diva Green), mulher preta, mãe, artista capilar, trançadeira, peruqueira e mayakeira, fala sobre suas vivências, beleza e estética negras. Carolina Pinto, advogada, empresária, gerente jurídica em uma empresa de tecnologia e fundadora do RAS, primeiro salão de luxo especializado em tranças do Brasil, fala sobre o crescimento das transições capilares e o resgaste das tranças. Vitor Gomes, hair sytle afro, criador e fundador do Príncipe das Tranças, espaço com foco de atuação em cortes e cuidados em cabelos afro, trancista e cabeleireiro afro especialista em cabelos crespos e cacheados, afirma: "Cabelos são resultados de hábitos e culturas. É sobre falar de autocuidado e reafirmar: 'você é bonita sim!'. Trabalhar com estética preta é empoderar". Nossa convidada Gabriela Isaias, fotógrafa documental, escritora e pesquisadora, doutoranda e mestra em Comunicação e Cultura pela UFRJ, pesquisadora das identidades culturais e estéticas da diáspora africana e autora da reportagem digital "Nesse canto do mundo: a ressignificação das tranças africanas no Rio de Janeiro" (2018) e da dissertação "O comprimento do desejo: cabelos longos e as performances negras do feminino" (2022), fala sobre saberes geracionais e a revolução estética negra capilar. Fontes de pesquisa: Afreaka, Alma Preta, Fashion Bubbles, Mercadizar, Salão Virtual e Purebreak. AGRADECIMENTO: O Canal Preto gostaria de agradecer a participação de nossas convidadas e convidado.

Todas As Vidas Importam: Existências LBTTGIAPN+ e Orgulho

TODAS AS VIDAS NEGRAS IMPORTAM: EXISTÊNCIAS LBTTGIAPN+ E ORGULHO Segundo o estudo "Qual é a cor do invisível? A situação dos direitos humanos da população LGBTI negra no Brasil" (Instituto Internacional sobre Raça, Igualdade e Direitos Humanos, 2020), existe um padrão de violações sistemáticas às pessoas LGBTI negras que as exclui do acesso à educação, à saúde e ao mercado formal de trabalho. Somadas a isso, a brutalidade policial, violências raciais e LGBTI+fóbicas associadas pioram a qualidade, esperança e expectativa de vida do grupo no país recordista em seu genocídio no mundo. O estudo destaca que uma de suas limitações é contar apenas com os dados de violências atendidas e notificadas nos serviços de saúde via Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). "Portanto", afirmam os autores, "presume-se que há subnotificação dos casos e que os dados apresentados não revelam a prevalência de violência vivenciada pela população LGBT". Apesar disso, o índice apresentado é considerado mais abrangente do que os dados coletados em delegacias ou denúncias por telefone. Correlacionando os números e perfis de quem são agentes protagonistas na luta por direitos básicos, o dossiê do Instituto Internacional sobre Raça, Igualdade e Direitos Humanos reitera que existem diferenças importantes na vivência sobre sexualidade e identidade, quando a questão é racializada – entre as experiências de pessoas LGBIAPN+ brancas e negras, cis, trans e travestis –. O mesmo estudo avalia esta dessemelhança por meio da tese defendida pelo pesquisador e ativista negro e gay da Rede Afro LGBT (BA) Washington Dias: "Há questões diferentes. Enquanto os gays brancos lutam por matrimônio e igualdade, a realidade para a imensa maioria dos negros gays é lutar pela sobrevivência", pontua. Urge-se debater o genocídio da população negra, a desmilitarização da polícia, para além da formação em direitos humanos das forças de segurança, discutir e aperfeiçoar a produção estatística e efetuar reparações à série de violências historicamente perpetrada, já que o quadro afeta pessoas negras LGBTs e toda a negritude. Como consequência, a sociedade brasileira torna-se, em seu conjunto, algoz destas populações, porque reprodutora dos "armários", invisibilizações e apagamentos diversos. Estes debates entrecruzados nunca devem ser, portanto, apartados. Fênix Zion, multiartista, pioneire alagoane, dançarine, professore de dança, produtore de moda, instrutore de passarela, stylist e escritore, fala sobre o movimento negro e cita Conceição Evaristo para falar de sua reeducação enquanto pessoa negra brasileira. Fel Lara, criador da marca afrourbana Roupas Lara (@roupas.lara) e videomaker graduado em Audiovisual pelo Centro Universitário Senac, afirma: "Meu corpo é livre, minha identidade é livre e minha expressão é livre!". Baobá, artista independente da música, teatro, canto, composição, performance e hairstylist, fala sobre avanços da luta LBTTGIAPN+, expectativas para o futuro e arte. Will Oliver, compositora, artista não binário, pansexual e não monogâmica, fala sobre padronizações, falta de afeto, dores e traumas. Fontes de pesquisa: Yahoo Notícias, Revista Galileu, Literafro, Them, Esqrever. Glossário Sorofobia: medo, aversão ou preconceito contra pessoas que vivem com HIV. Xenofobia: medo ou desconfiança de pessoas estranhas àquele território, em geral, estrangeiras. AGRADECIMENTO: O Canal Preto gostaria de agradecer a participação de nosses convidades. Fênix Zion – Multiartista, pioneire alagoane, dançarine, professore de dança, produtore de moda, instrutore de passarela, stylist e escritore. Fel Lara – Criador da marca afrourbana Roupas Lara (@roupas.lara) e videomaker graduado em Audiovisual pelo Centro Universitário Senac. Baobá – Artista independente da música, teatro, canto, composição, performance e hairstylist. Will Oliver – Compositora, artista não binário, pansexual e não monogâmica. Racismo. Ou você combate, ou você faz parte. Qual dos dois é você?

Presença Digital Negra - Black Digital Influencers

Com o uso expressivo das redes sociais na última década, a Internet possibilitou a descentralização e o maior consumo de informações, aspectos que geraram uma identificação imediata do público com produtores e produtoras de conteúdo em ambiente digital. Seja o dia a dia ou qualquer outro assunto a envolver o comportamento de tais perfis, os chamados "seguidores" e "seguidoras" permanecem diariamente atentos e atentas, por vezes durante 24h ininterruptas, às atualizações, garantindo audiência a quem deseja firmar-se referência em seus respectivos campos de atuação – ou não. Enquanto novo meio de comunicação, as mídias digitais possibilitaram a ascensão de uma pluralidade de vozes, sedentas por mostrarem quem são, o que podem oferecer ao mundo e dialogar com os seus e suas iguais, como é o caso dos perfis on-line de personalidades negras. Entretanto, qual um mercado, os números se tornaram sinônimo de nível de influência e formação de opinião pública – entre seguidores(as), likes e comentários –, o que possibilita à audiência, em especial de companhias e marcas, amplo panorama de quanto um perfil pode impactar em seu meio. Nossa convidada Yolanda Frutuoso, social media e produtora de conteúdo no Catraca Livre (Projeto Diversa), criadora do canal "Afrobetizando" (YouTube) e social media do projeto Bitonga Travel (coletivo de mulheres negras viajantes), afirma: "Meu projeto só existe graças às redes sociais, que possibilitaram este empoderamento estético e intelectual". João Marcos da Silva Bigon, escritor e analista de Projetos de Educação e Letramento Racial no Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), professor de História, mestre em Relações Étnico-raciais (Cefet-RJ), produtor de conteúdo digital e educador social, afirma: "Este novo universo, esta nova linguagem que a internet desenha só revelam que o nosso povo é o povo da tecnologia". Nossa convidada Paula Batista, jornalista, educadora antirracista, especialista em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo (USP), mestra em Divulgação Científica e Cultural pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e criadora do "Ser antirracista" – onde se dedica à educação antirracista, letramento racial para a promoção da igualdade racial e combate ao racismo –, fala sobre a importância da representatividade no campo digital. Fontes de pesquisa: Ceará Criolo, Veja Rio, Mundo Negro, Deezer, TramaWeb, Racismo Ambiental, Correio Braziliense, Elástica, Jota.info, Conexis, n-1 Edições, The Intercept. O Canal Preto gostaria de agradecer às nossas convidadas e convidado. João Marcos da Silva Bigon - Escritor e analista de Projetos de Educação e Letramento Racial no Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), professor de História, mestre em Relações Étnico-raciais (Cefet-RJ), produtor de conteúdo digital e educador social. Paula Batista - Jornalista, educadora antirracista, especialista em Mídia, Informação e Cultura pela USP, mestra em Divulgação Científica e Cultural pela Unicamp e criadora do "Ser antirracista", onde se dedica à educação antirracista, letramento racial para a promoção da igualdade racial e combate ao racismo. Yolanda Frutuoso - Social media e produtora de conteúdo no Catraca Livre (Projeto Diversa), criadora do canal "Afrobetizando" (YouTube) e social media do Projeto Bitonga Travel, coletivo de mulheres negras viajantes. Racismo. Ou você combate, ou você faz parte. Qual dos dois é você?

Empreendedorismo Negro e Novas Economias pela Revolução Estética

Segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), no Brasil, pessoas negras representam maioria no setor empreendedor. Entre 2002 e 2012, 50% dos(as) micro e pequenos(as) empresários(as) se autodeclararam pretos(as) ou pardos(as), enquanto 49% se autoafirmaram brancos. É a primeira vez que o número de empreendedores(as) afrodescendentes superou o de brancos(as). Empreendendo em setores de menor lucratividade, como o agrícola, o ambulante e o cabeleireiro, negros e negras acumulam renda menor que a de empresários e empresárias não negros(as). O rendimento do empresariado branco, que domina o setor de máquinas e serviços de saúde, por exemplo, é 112% superior ao de seu congênere negro. A ex-ministra da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), Matilde Ribeiro, que exerceu seu mandato durante uma das duas gestões do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, afirma que "os indicadores do mercado de trabalho revelam que o empreendedorismo para a população negra surge e se mantém a partir das necessidades cotidianas, tendo em vista o racismo institucional muito presente no mundo do trabalho", conclui. Ainda de acordo com os dados, 41% das pessoas pretas e pardas que exercem a atividade empreendedora estão no Nordeste, região onde o empreendedorismo negro predomina. O presidente do Sebrae, Luiz Barreto, afirma que o avanço de negros e negras como empresários e empresárias indica que as políticas sociais realizadas para este grupo têm se mostrado eficazes, pontuando também a criação da figura jurídica do Microempreendedor Individual (MEI) como fator importante à atual realidade dos empreendedores negros e negras do país. Nossa convidada Amanda Coelho, mais conhecida como Diva Green, mulher preta, mãe, artista capilar, trançadeira, peruqueira e mayakeira, afirma: "Eu crio minha empresa, que vem também para transbordar minhas experiências". Carolina Pinto, advogada, empresária, gerente jurídica em uma empresa de tecnologia e fundadora do RAS – primeiro salão de luxo especializado em tranças do Brasil –, fala sobre o campo digital, mercado financeiro e Black Money (ou dinheiro preto, produzido e circulado por, para e entre pessoas negras). Nossa convidada Taynara Alves, formada em Gestão de Negócio e Inovação e sócia do RAS – primeiro salão de luxo especializado em tranças do Brasil –, fala sobre memórias ancestrais, empreendedorismo negro e negócios de impacto. Fontes de pesquisa: Sebrae, Primeiros Negros, Mundo Negro, Claudia, BagyBlog, Whow. AGRADECIMENTO: O Canal Preto gostaria de agradecer a participação de nossas convidadas. O Canal Preto gostaria de agradecer às nossas convidadas. Amanda Coelho (Diva Green) - Mulher preta, mãe, artista capilar, trançadeira, peruqueira e mayakeira. Carolina Pinto - Advogada, empresária, gerente jurídica em uma empresa de tecnologia e fundadora do RAS, primeiro salão de luxo especializado em tranças do Brasil. Taynara Alves - Formada em Gestão de Negócio e Inovação e sócia do RAS, primeiro salão de luxo especializado em tranças do Brasil. Racismo. Ou você combate, ou você faz parte. Qual dos dois é você?
Canal Preto 00:08:40
EP17 - Maternidades Negras

Maternidades Negras

Nas produções histórico-teóricas dos feminismos brancos ocidentais, a maternidade fora, em geral, conceituada como entrave à participação de mulheres nas lutas políticas por equidade, acesso a melhores oportunidades de trabalho e à própria realização pessoal. Da mesma forma, em outros prismas teóricos, à maternidade já se atribuiu a condição de ferramenta do patriarcado no controle social dos corpos de mulheres e pessoas com útero, sexual e reprodutivamente fundamental à replicação da força de trabalho e sua sobre-exploração pelo capital. No entanto, esta perspectiva universalizante do que é ser mulher, poder gestar ou maternar não é mais aceitável, em razão de pontos de vista epistemológicos outros e contribuições igualmente históricas, multifacetadas dos feminismos negro, indígena e decolonial, por exemplo, para as diásporas brasileiras. Assim, as problemáticas vivenciadas por mulheres, pessoas com útero, gestantes ou desta forma identificadas já não podem ser analisadas a partir de concepções feitas hegemônicas de feminismos ou outras teorias libertárias sobre mulheridades e maternalidades. A maternidade, ou a maternagem, pode ser fonte de redenção, potência e afeto, mas também de opressão, sobretudo por conta dos efeitos colaterais da precarização das condições de vida que afetam mulheres e pessoas que gestam negras brasileiras. Fontes de pesquisa: Cria para o Mundo, O mundo autista, Geledés, Revistas USP. AGRADECIMENTO: O Canal Preto gostaria de agradecer a participação de nossas convidadas. Luciana Viegas - Autista ativista. Mulher preta. Professora. TEDx Speaker. Colunista Revista Autismo. Idealizadora do Movimento Vidas Negras com Deficiência Importam (VNDI). Thainá Briggs - Assistente social formada pela UFF (foco em juventude periférica), gestora empresarial (MBA - Universidade Estácio de Sá), escritora, poetisa e coordenadora do premiado livro "Mães pretas. Maternidade solo e dororidade". Sarah Carolina - Criadora de conteúdo digital, mãe de três filhos pretos, pedagoga e educadora (maternância negra e criação positiva real), historiadora e pesquisadora da parentalidade. Marcele Oliver - Ativista, produtora, escritora, trancista e empreendedora social. Coordenadora editorial da obra "Tinha que ser preto" (Editora Conquista, 2022). Mãe, mulher e abrigo de Fayzah Badu. Pollyne Avelino - Produtora e empreendedora. Idealizadora do Mães de Wakanda. Mãe de Malik Abayomi. Racismo. Ou você combate, ou você faz parte. Qual dos dois é você?

Traumas Diaspóricos e Saúde Mental - Psicologia Preta, Traumas Histórico e Transgeracional

Ao limitar-se às conceituações brancas e europeias sobre saúde mental e sofrimento psíquico, a psicologia brasileira deixa de contemplar e tratar adequadamente 56% da população do país, compostas por negros e negras (IBGE). A subjetividade negra é ignorada na grande maioria das graduações em Psicologia, e um dos efeitos diretos disso são pacientes negros e negras vítimas de racismo pelos(as) profissionais que deveriam acolhê-los(as), incompreendidos(as) em suas questões, não escutados(as) e ouvidos(as) como pertencentes a um povo durante mais de 300 anos escravizado e só há 134 anos liberto. Diversos intelectuais negros e negras dedicaram-se à produção de conhecimento sobre os efeitos do racismo nas subjetividades negras. Já na década de 1940, a psicanalista Virgínia Leone Bicudo (1910-2003) realizou uma vasta pesquisa com negros(as) ascendidos(as) socialmente em São Paulo, que resultou na dissertação de mestrado intitulada "Atitudes raciais de negros e mulatos em São Paulo" (1945). O psiquiatra martinicano Frantz O. Fanon (1925-1961) escreveu, em seu trabalho clínico e acadêmico, o livro "Pele negra, máscaras brancas" ("Peau noire, masques blancs", 1952), originalmente sua rejeitada tese de doutoramento agora tornada referência nos estudos em saúde mental da população negra. Nos anos 1960/1970, no trabalho de psicólogos negros, como Dr. Wade Nobles (Ifagbemi Sangodare, Nana Kwaku Berko I) e Na'im Akbar (nascido Luther Benjamin Weems Jr., 1944), surge, nos Estados Unidos, a Black Psychology, ou Psicologia Preta, qual sendo a construção de teorias e práticas em psicologia clínica à luz das subjetividades negras e a ancestralidade africana. Nos anos 1980, a psicóloga e psicanalista brasileira Neusa Santos Souza (1948-2008) escreveu o livro "Tornar-se negro, ou as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social" (1983), em que fez a releitura de conceitos fundamentais da psicanálise a partir da experiência negra. Não há espaço aqui para o levantamento de todas as publicações sobre saúde mental negra ao longo da história; elegemos essas por se tratar de publicações de autores e autoras pioneiros no tema. Nossa convidada Andressa Cardoso, psicóloga (CRP 21/04104) graduada pelo Centro Universitário Santo Agostinho (UNIFSA-PI) seguidora da linha de abordagem cognitivo-comportamental (TCC), com atendimento direcionado à ansiedade, luto, população negra, autoestima e autoconhecimento, fala sobre o fortalecimento das redes de saúde, priorizando as desigualdades étnico-raciais. Shenia Karlsson, psicóloga clínica (membro efetiva da Ordem de Psicólogos de Portugal - OPP), mestre em Estudos Africanos pelo Instituto Superior de Ciências Políticas e Sociais (ISCSP, Universidade de Lisboa), colunista Revista Gerador, Diretora do Instituto da Mulher Negra de Portugal e cofundadora do Papo preta: saúde e bem-estar da mulher negra, afirma: "O conceito de traumas diaspóricos é uma experiência coletiva resultante de descontinuidades, desterritorialização, de movimentos migratórios, processos históricos, interrupções e distorções que geraram uma série de traumas na comunidade negra". Nossa convidada Joice Modesto, psicóloga com nicho de atuação em saúde mental da população negra e relações étnico-raciais, fala sobre os traumas histórico, transgeracional e o trauma que permanece em curso. Ariane Kwanza Tena, bacharel em Psicologia pela UFMT, mestre em Educação (UFMT/UFRRJ), com pesquisa em Psicologia Preta, fala sobre o fenômeno da psicologia moderna saída das ideias e abordagens ocidentais, citando Abdias Nascimento (1914-2011) e bell hooks (nascida Gloria Jean Watkins, 1952-2021). Fontes de pesquisa: Afrofuturo, Amazon e "Vivendo de amor" (hooks, 1994). O Canal Preto gostaria de agradecer a participação de nossas convidadas. Andressa Cardoso - Psicóloga (CRP 21/04104) graduada pelo Centro Universitário Santo Agostinho (UNIFSA-PI) seguidora da linha de abordagem cognitivo-comportamental (TCC), com atendimento direcionado à ansiedade, luto, população negra, autoestima e autoconhecimento. Shenia Karlsson - Psicóloga clínica (membro efetiva da Ordem de Psicólogos de Portugal - OPP). Mestre em Estudos Africanos pelo Instituto Superior de Ciências Políticas e Sociais (ISCSP, Universidade de Lisboa). Colunista Revista Gerador. Diretora do Instituto da Mulher Negra de Portugal. Cofundadora do Papo preta: saúde e bem-estar da mulher negra. Joice Modesto - Psicóloga com nicho de atuação em saúde mental da população negra e relações étnico-raciais. Ariane Kwanza Tena - Bacharel em Psicologia pela UFMT. Mestre em Educação (UFMT/UFRRJ), com pesquisa em Psicologia Preta. Especialista em Psiconutrição (Unyleya) atuante na área de formação, pesquisa e clínica na perspectiva da Psicologia Preta. Racismo. Ou você combate, ou você faz parte. Qual dos dois é você?

Amor Preto Enquanto Estratégia de Resistência

A intelectual e escritora bell hooks (nascida Gloria Jean Watkins, 1952-2021) tem vasta produção teórica a respeito do amor como elemento fundamental à disputa política e à sobrevivência (físico-espiritual, psíquica, material, subjetiva e emocional) da comunidade negra em diáspora. Este conceito é amplo e avança sobre relações afetivas não românticas, abarcando relações familial-parentais, de amizade e/ou travadas em quaisquer círculos sociais – embora a afetividade de tipo romântica (entre casais ou quaisquer outras formações semelhantes) também receba tratamento aprofundado. Em muitas de suas elaborações, hooks defende, de diferentes formas, que a população negra precisa combater "a falta de amor" ("Vivendo de amor", 1994). As relações afetivas cumprem um importante papel de superação das violências impostas por sociedades racistas. "Muitos negros, e especialmente as mulheres negras, se acostumaram a não ser amados e a se proteger da dor que isso causa, agindo como se somente as pessoas brancas ou outros ingênuos esperassem receber amor", escreveu a autora em 'Vivendo de amor' (1994). hooks encerra o texto, afirmando que "quando conhecemos o amor, quando amamos, é possível enxergar o passado com outros olhos; é possível transformar o presente e sonhar o futuro. Esse é o poder do amor. O amor cura". Para Roger Cipó, fotógrafo, Ogan e influenciador crítico preto, "qualquer ação de amor preto é um ato de cura, proteção e cuidado". Nosso convidado Renato Nogueira, escritor, professor de Filosofia do Departamento de Educação e Sociedade (UFRRJ) e ensaísta, fala sobre o amor como potência de restauração. Tati Brandão, palestrante, mentora e professora de Liderança Inclusiva, com foco na afetividade e escutatória (aprender a escutar de forma profunda e empática), afirma: "Hoje em dia, falar de amor, viver em amor, transbordar afeto, exercitar afeto são atos de coragem". Nosso convidado Adalberto Neto, jornalista, dramaturgo e influencer, vencedor dos Prêmios Shell, Ubuntu e Reconhecimento Popular pela peça "Oboró - Masculinidades negras", afirma: "O amor preto cura, porque esta troca de afeto entre pessoas iguais a nós só alimenta nossa autoestima". Fontes de pesquisa: Mundo Negro, UOL, Geledés, Carol Society. O Canal Preto gostaria de agradecer aos nossos convidados e convidada. Renato Nogueira - Escritor, professor de Filosofia do Departamento de Educação e Sociedade (UFRRJ) e ensaísta. Tati Brandão - Palestrante, mentora e professora de Liderança Inclusiva, com foco na afetividade e escutatória (aprender a escutar de forma profunda e empática). Adalberto Neto - Jornalista, dramaturgo e influencer. Vencedor dos Prêmios Shell, Ubuntu e Reconhecimento Popular pela peça "Oboró - Masculinidades negras". Racismo. Ou você combate, ou você faz parte. Qual dos dois é você?

Evasão Escolar - Um Risco À População Negra

Quase metade dos jovens negros de 19 a 24 anos não conseguiu concluir o Ensino Médio. De acordo com dados do IBGE, o índice de evasão escolar chega a ser de 44,2% entre os homens; um recorte de gênero e raça revela ainda que, sobre as mulheres negras da mesma faixa etária, o abandono escolar é uma realidade para 33% das jovens. A evasão escolar geralmente ocorre por conta da necessidade de uma renda extra, pois a população negra sofre com o ingresso forçado ao mercado de trabalho, fazendo com que jovens abandonem o ambiente escolar para ajudarem a família a garantir uma renda básica e sobreviver. Nossa convidada Joana Oscar, Gerente de Relações Étnico-Raciais da Secretaria Municipal de Educação (SME) do Rio de Janeiro, fala que ainda vivemos um resquício do processo de exclusão e marginalização tributário da escravização negro-africana no período colonial (1534-1822) e do período pós-abolição brasileiro (1888) e cita a necessidade de falar sobre acesso e garantia de permanência, aprendizagem e conclusão ao alunado da rede.

Dos Tabuleiros de Acarajé: Culinária Afro-Brasileira

As comidas e receitas de origem africana foram, depois de chegarem ao território brasileiro, modificadas em suas técnicas de preparo e adaptação de ingredientes, dando origem à culinária africana no Brasil – ou à gastronomia afro-brasileira. O acarajé é a comida africana mais famosa e popular que temos no país: um bolinho feito de feijão fradinho e frito no azeite de dendê, recheado com vatapá, caruru, camarão e molho de pimenta. Seu nome tem origem na língua iorubá – "acará" (bola de fogo) e "jé" (ato de comer), acrescentado posteriormente – e começou a ser vendido em tabuleiros nas ruas de Salvador (séculos 18 e 19). Nossa convidada Aline Chermoula, chef proprietária da Chermoula Cultura Culinária, pesquisadora da cozinha ancestral afrodiaspórica pelas Américas, professora na Gastromotiva, colunista Vogue Brasil e Site Mundo Negro, fala sobre a utilização das folhas na culinária africana, citando as mulheres quituteiras e ganhadeiras. Kanu Akin Trindade, Om? Ògún, biólogo, engenheiro de produção, cofundador do Dida Bar e Restaurante, afirma: "Eu acho que, dentro da diáspora africana, o acarajé simboliza como qualquer coisa que eles façam, qualquer coisa que tenham feito não é forte o suficiente para separar a gente de África. O acarajé simboliza muita potência".

Mulheres e Meninas Negras nas TECH

Estudos apontam que, há décadas, o campo da tecnologia reproduz as desigualdades de gênero já observadas no cotidiano social, associando homens ao desenvolvimento de tecnologias e às carreiras tecnológicas, enquanto, e frequentemente, mulheres eram invisibilizadas em suas trajetórias no setor. Infelizmente, ainda não existem dados precisos sobre o acesso da população negra às tecnologias e às ferramentas fornecidas pela Internet, tampouco seus hábitos de uso. Pesquisas de amplo espectro, como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) – Acesso à internet e à televisão e posse de telefone móvel celular para uso pessoal, ou Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) em domicílios, por exemplo, não fazem recorte de raça. No que diz respeito às mulheres negras, especificamente, o Dossiê Mulheres negras: retrato das condições de vida das mulheres negras no Brasil, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2013), e a Síntese de Indicadores Sociais (2018), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam para maiores restrições sentidas por mulheres negras em distintos segmentos, como acesso à moradia adequada, educação, proteção social, serviços de saneamento básico, tecnologias e comunicação. A exclusão da população negra é sentida também no campo de estudos de gênero, ciências e tecnologias. Esta área de conhecimento é hegemonizada por pesquisadores predominantemente brancos e brancas. As lacunas também se apresentam nos recortes de pesquisa, que raramente se debruçam sobre a intersecção entre raça, gênero e tecnologia.

Escrevivências - Da Representatividade Negra Feminina na Literatura

ESCREVIVÊNCIAS – DA REPRESENTATIVIDADE NEGRA FEMININA NA LITERATURA A literatura negra é a produção literária cujo sujeito da escrita é a própria pessoa negra. É a partir da subjetividade de negras e negros, de suas vivências e seu ponto de vista que se tecem as narrativas e poemas assim classificados (pela autoria e/ou enunciação negras). A pessoa negra aparece na literatura brasileira mais como tema que como voz autoral. Logo, a maioria das produções literárias brasileiras retrata personagens negras sob perspectivas que evidenciam estereótipos da estética branca dominante, eurocêntrica. Trata-se de uma produção literária escrita majoritariamente elaborada por autores e autoras brancos e brancas, em que o negro ou negra é objeto de uma literatura reafirmadora de estigmas raciais.

Dona Ivone Lara - 100 Anos

D. IVONE LARA - 100 anos Yvonne Lara da Costa (1922-2018), mais conhecida como Dona Ivone Lara, foi uma cantora, compositora e letrista brasileira, também denominada a "Grande Dama do Samba", e primeira mulher a integrar a ala de compositores(as) de uma escola de samba do grupo de elite do carnaval carioca, o G.R.E.S. Império Serrano. Formada em Enfermagem e Serviço Social (neste último curso, possivelmente, a primeira em todo país), Yvonne Lara teve papel importantíssimo na reforma psiquiátrica do Brasil, no bojo da luta antimanicomial, ao lado da médica psiquiatra Nise da Silveira (1905-1999). A artista lançou cerca de 15 discos e dezenas de sambas. Entre seus maiores sucessos, estão "Sonho meu" (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho), "Alguém me avisou" (Dona Ivone Lara) e "Acreditar" (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho).

O Futuro das Cotas nas Universidades

A implantação das cotas sociais e raciais e demais ações afirmativas tem papel fundamental na diversificação racial dos corpos docente e discente dos bancos universitários (e do serviço público), na produção teórica/do conhecimento acadêmico-científico e de respostas mais complexas às questões sociais à brasileira, no avanço da justiça racial reparatória e de cidadania efetiva para as populações negras, incluindo-se quilombolas, e não negras historicamente subalternizadas pelo Estado – a exemplo dos povos indígenas e outras comunidades tradicionais (povos das águas, matas e florestas), pessoas com deficiência (PcD), trans e travestis.

NEGRITUDES, COLORISMO E REALIDADES RACIAIS À BRASILEIRA

Em um país altamente miscigenado, o colorismo organiza quase metade da população, distribuindo a sociedade em um gradiente de cores sob uma "mentalidade de superioridade branca". Ainda é muito difícil falar sobre colorismo, sobretudo para quem tem alguma origem mestiça, pois é falar sobre sua própria história, compreender, aceitar que ela está relacionada com o processo de violência colonial escravagista por que a história do Brasil está assinalada e, muitas vezes, defrontar-se com esta realidade pode ser um processo doloroso.

Salvador, cidade diaspórica

iáspora atlântica. A incessante busca de África na Bahia. A diáspora deve ser entendida como um fenômeno de deslocamento global de africanos e africanas no mundo. O deslocamento é entendido, assim, princípio da diáspora, por abarcar uma infinidade de elementos. A noção de diáspora africana é um processo dinâmico que está e sempre esteve associado à memória viva da escravidão, à experiência e à luta contra o racismo, ao sentimento de dupla consciência no qual o sujeito encontra-se dividido entre duas realidades.

Literatura Infanto Juvenil Afrocentrada, Representação Negra e Representatividade

A literatura infantil tem muito a contribuir para a construção da identidade. Por isso, é essencial que haja cada vez mais personagens principais negros e negras na literatura, para que crianças e adolescentes possam se identificar e construir visões de mundo mais amplas e realistas. Vivemos em um mundo tão diverso e rico por suas diferenças, que não faz sentido encontrarmos apenas uma pequena parcela da sociedade representada na literatura - pensando entre personagens e autoria destes livros.

Modernismo negro nas artes

A Semana de Arte Moderna teve como intuito transgredir o padrão eurocêntrico tradicional da época, em que apenas a elite branca fazia parte do seleto grupo de artistas. O movimento modernista não foi, porém, inclusivo, pois não representou a negritude brasileira, tampouco a comunidade indígena.

Março Negro: Marielle Franco, Carolina Maria de Jesus e Abdias Nascimento

Em 14 de março, nasceram duas vidas negras que, de tão potentes, o racismo não conseguiu apagar. Carolina Maria de Jesus e Abdias Nascimento nasceram no mesmo ano (1914) e cumpriram, ambos, uma caminhada de resistência traçada com arte, coragem e revolta. No mesmo dia, Marielle Franco foi brutalmente assassinada, fazendo com que, hoje, este dia nos mobilize contra o genocídio, a desigualdade, o preconceito e as inúmeras injustiças que assolam a população negra no Brasil.

A revolução feminina negra pelas afetividades

Como afirma bell hooks (1952-2021): "Muitas mulheres negras sentem que em suas vidas existe pouco ou nenhum amor. Essa é uma de nossas verdades privadas que raramente é discutida em público. Essa realidade é tão dolorosa, que as mulheres negras raramente falam abertamente sobre isso". Os impactos psicológicos deste preterimento são diversos e não se restringem exclusivamente aos relacionamentos amorosos; as amizades e o ambiente de trabalho podem gerar sentimentos que reforçam uma baixa autoestima da mulher negra. Nossa convidada Caroline Moreira, consultora de diversidade racial, mentora, CEO e Founder Negras Plurais, afirma que "falar de afeto é também falar de cuidado". Tati Cassiano, CEO e Founder Ubuntuyoga, afirma que "se permitir ser vulnerável é ser corajosa, a ponto de abraçar essa humanidade que nos é negada". Nossa convidada Sueide Kintê, jornalista griô, consultora e produtora cultural, ativista pelos direitos humanos das mulheres negras e poetisa, afirma: "Naturalizar a frustação como algo genuíno do ser humano é uma coisa que nos acalenta". Fontes de pesquisa: Geledés, Mundo Negro, Revista Marie Claire, Azmina, Redalyc.org e Correio Nagô. O Canal Preto gostaria de agradecer a participação de nossas convidadas: Caroline Moreira (Consultora de diversidade racial, mentora, CEO e Founder Negras Plurais) Tati Cassiano (CEO e Founder Ubuntuyoga) Sueide Kintê (Jornalista griô, consultora e produtora cultural, ativista pelos direitos humanos das mulheres negras e poetisa) Racismo. Ou você combate, ou você faz parte. Qual dos dois é você?

Carnaval, Cultura e Resistência

O Carnaval é cultura popular, fonte de liberdade de expressão, alegria, oportunidade e espaço de articulação e diálogo com a população, funcionando como instrumento de resistência e mudança social. Como afirma nossa convidada Leci Brandão, cantora, compositora e política brasileira: "As mídias precisam olhar para os grupos de samba femininos. Temos muitos grupos de samba femininos, mas que não são divulgados". Marcelo Argôlo, jornalista, pesquisador e idealizador do @popnegroba, afirma que "o carnaval de rua de Salvador é uma invenção da população negra". João Jorge Rodrigues, presidente do Bloco Afro Olodum, afirma que "1983 é um marco da história do Olodum, por não ter desfilado e se reinventado". Nossa convidada Millena Wainer, jornalista e cantora do G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel, conta-nos sobre sua vivência como cantora de samba e afirma que "o samba amplia meus horizontes, ele me faz ser uma pessoa melhor". Fontes de pesquisas: Portal à Tarde, Correio Nagô, Museu Afro Rio, Agência Brasil, Laboratório Fantasma, Pop Prosa, Geledés, O Globo, Itaú Cultural, Revista Capitolina, Correio Braziliense, Fundação Cultural Palmares, Metrópoles, Pitaya Cultural, Tribuna de Minas, Efigênias, Revista Continente, Catraca Livre e Carnavalesco. O Canal Preto gostaria de agradecer a participação de nossos convidados: Leci Brandão (Cantora, compositora e política brasileira) Marcelo Argôlo (Jornalista, pesquisador e idealizador do @popnegroba) Millena Wainer (Jornalista e cantora do G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel) João Jorge Rodrigues (Presidente do Bloco Afro Olodum) Racismo. Ou você combate, ou você faz parte. Qual dos dois é você?

Imigrantes e Refugiados Negros no Brasil

O Brasil é conhecido como uma nação acolhedora, porém tem dado passos em direção a uma política migratória mais restritiva. Nos últimos anos, o país testemunhou não apenas o estancar dos avanços, mas graves retrocessos, trazendo novamente à tona temas como as deportações sumárias e a criminalização da migração. No programa de hoje temos os convidados: DJ Dafro (DJ angolano); Lígia Margarida Gomes (Mestra em Desenvolvimento e Gestão Social, militante do movimento negro e membra da Diretoria da Sociedade Protetora dos Desvalidos - SPD): e Maria Cristina dos Anjos (Assessora Nacional para Migração - Cáritas brasileira).